Fingir até conseguir — The Dropout expõe o empreendedorismo de palco

Gabriel Caetano
3 min readApr 17, 2022

--

É possível enganar todo mundo o tempo todo? Originalmente exibida pela Hulu, a minissérie chegou ao Brasil pelo Star+ contando a história da maior fraude da história do Vale do Silício.

Elizabeth Holmes ficou mundialmente famosa como a mente que traria ao mundo a próxima revolução mundial em saúde. The Dropout, traz Amanda Seyfried (Garota Infernal) no papel da ambiciosa executiva que construiu uma firma bilionária enganando investidores e modelando uma imagem de estrela dos negócios para si. A produção é baseada no podcast homônimo da ABC News, apresentado por Rebecca Jarvis, que também é produtora executiva junto de Elizabeth Meriwether. O texto da protagonista é extraído fidedignamente de entrevistas, palestras e peças publicitárias.

Para entender a Theranos

A startup surgiu sob a luz de uma ideia empolgante: se uma única gota de sangue fosse capaz de realizar todos os testes necessários e apresentar diagnósticos precisos? Com tecnologia própria, a Theranos fazia essa promessa ao mundo. Assim, a CEO se tornou a bilionária mais jovem do mundo (fortuna avaliada em aprox. US$4,5 bi). Estampou capas de revistas especializadas e de personalidades, foi convidada a integrar conselhos importantes e a palestrar para novos talentos.

Custaria muito menos dinheiro e ofereceria aos médicos e pacientes soluções prontas para um punhado de problemas de saúde. Com a companhia fundada em 2003, não demorou a arrecadar quantidade massiva de dinheiro com o auxílio de venture capital.

O escândalo, no entanto, tem início quando profissionais alertam a diretoria sobre a imprecisão dos testes realizados. Mais de uma década depois. Fato que desaguou na revelação do The Wall Street Journal — de que a tecnologia da companhia não funcionava e havia prejudicado milhares de civis com falsos diagnósticos.

Stephen Fry é Ian Gibbons, chefe da equipe química da Theranos

Mesmo se tratando de uma série dramática, The Dropout é conduzida no padrão moderno de documentários. Ao longo de 8 episódios, a minissérie acompanha o processo de fundação, decolagem e falência da Theranos, integrando diferentes núcleos de personagens e estruturando as histórias paralelas do elenco de apoio. Um dos melhores momentos da narrativa é a despedida do personagem de Stephen Fry, que emprega enorme força dramática com sua contribuição. Assim como Sam Waterston (The Newsroom).

Ascensão e queda de uma estrela bilionária do Vale do Silício, que de repente se encontra na posição de criminosa, causa imediata atração. É o tipo de história que se vende sozinha, mas Elizabeth enquanto protagonista também se revela como um personagem interessante. Com interesse obsessivo pela figura de Steve Jobs, a “inventora” passa a forçar um tom de voz mais grosso em público e emular a imagem e discurso de seu modelo: em conceitos superficiais que são levados à empresa, as vestes pretas com gola alta e orgulho incomum ao contar que abandonou a faculdade.

Naveen Andrews (o Sayid, de Lost) vive Sunny Balwani

Ambição ilimitada ou uma alma bem intencionada que perdeu as rédeas do negócio? A narrativa de The Dropout aposta pesado na primeira opção. Essa escolha mira além de Elizabeth Holmes e foca no mundo de aparências do empreendedorismo de palco. O sentido da produção é exposto nos momentos em que o status social de sua protagonista está em pauta. Quem ela era e quem se tornou, o que sua família tinha e o que conquistou, a conversa fiada entre os tios e tias que sentem inveja da sobrinha mesmo num velório, etc. Elizabeth não era uma cientista ou inventora, embora fosse creditada assim. Investiu mídia para que fosse assim. Esse falso império que construiu em torno de si prejudicou vidas e arruinou carreiras — porque a vaidade veio antes do trabalho.

Mais sobre o caso:

--

--

Gabriel Caetano

Publicitário que escreve sobre arte e entretenimento. Desde 09 tô na internet falando do que gosto (e do que não gosto) para quem possa gostar (ou não) também.