O que tem para assistir? Sugestões de filmes disponíveis nos streamings

Gabriel Caetano
12 min readOct 8, 2023

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Lista de filmes que gosto e podem ser assistidos online. Abaixo dos títulos, deixo nota, gênero, minutagem, plataforma (com link clicável), um breve comentário e trailer. Todos os títulos da lista têm a avaliação de, pelo menos, ★★★½. Não serão incluídos filmes do MUBI, por se tratar de um serviço cuja curadoria é sua prerrogativa.

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São Paulo, Sociedade Anônima (1965, Luis Sérgio Person)

★★★★½

106 minutos; Drama; Globoplay; Com Walmor Chagas, Eva Wilma, Ana Esmeralda, Darlene Glória e Otello Zeloni.

Luis Sergio Person apresenta em ‘São Paulo Sociedade Anônima’ um retrato cru e quase documental do que é São Paulo. A obra serve um contraponto ao imaginário comum de que o Brasil seria representado de que existe em torno do Rio de Janeiro. Se o Rio é terra do carnaval, do samba e futebol, São Paulo é o Brasil da ‘ordem e progresso’ que estampam a bandeira. A cidade das oportunidades abertas para quem imigra (existem citações diretas aos turcos no comércio têxtil e italianos na indústria). Onde é possível ascender através do trabalho e também proporcionar melhor qualidade de vida para a família.

Carlos, que é agressivo e mulherengo, de simples empregado, começa a ascender a na indústria através de um contato profissional. Com a vida estável, se casa com Luciana, que também carrega suas ambições veladas. Nem dinheiro ou família dão sentido a vida do protagonista que encarna a questão do ‘trabalhar para viver e morrer de trabalhar’. Num momento que a produção industrial no Brasil acabava de crescer coisa de 80% devido ao plano de metas do governo JK, São Paulo testemunhava esse boom das fábricas automotivas — captados pelos ruídos imponentes das máquinas, prédios, engrenagens, ônibus e trems.

‘São Paulo Sociedade Anônima’ sobre trabalho e oportunidades e o reflexo destes valores no egoísmo e ambição das famílias. Uma das pedras preciosas do cinema brasileiro, que reflete uma identidade omissa de seu povo.

Onde Vivem Os Monstros (2011, Spike Jonze)

★★★★

100 Minutos; Aventura Infantil; Prime Video; Com Max Records, Catherine Keener, James Gandolfini, Lauren Ambrose, Catherine O’Hara, Forest Whitaker, Chris Cooper, Paul Dano, Spike Jonze e Mark Ruffalo.

Spike Jonze é um verdadeiro mestre na arte de materializar a imaginação. Este é mais um de seus filmes onde o fantástico toma de assalto a realidade a fim de confrontar o expectador com sua natureza. Spike foi habilidoso ao reimaginar ‘Onde Vivem Os Monstros’ — livro ilustrado de Maurice Sendak, publicado em 1963, numa tentativa de conversar com leitores do clássico infantil em todas as idades.

Desenvolver essa história exige sensibilidade para lidar com crianças e adultos. Definir os limites que existem entre os dois mundos, sem deixar de estabelecer uma ponte entre eles. Max, precisa da atenção da mãe e da irmã. Quando não consegue, se frustra e desenvolve uma rebeldia injustificada. Por isso, cria seu mundo, habitado por monstros, em que pode mandar como um rei e mudar as regras de uma hora para a outra. Até ser confrontado pelo mesmo egoísmo que mostrou contra sua família.

Hannah e Suas Irmãs (1986, Woody Allen)

★★★★½

102 minutos; Dramédia; Prime Video; Com Mia Farrow, Barbara Hershey, Dianne West, Michael Caine, Woody Allen, Max Von Sydow, John Turturro, Lewis Black e Julia Louis-Dreyfuss.

Roger Ebert, notório crítico de cinema falecido em 2013, citava ‘Hannah e Seus Irmãs’ como o melhor filme de Woody Allen. Não sou capaz de concordar, mas é verdade que o filme sintetiza de modo bem dosado as questões existencialistas e de relacionamento que acompanham a carreira do diretor/comediante, mais uma vez, flertando com a tragédia e sem expondo as claras as referências que o ajudaram a tecer sua trama.

Quando um homem (Michael Caine) se apaixonada pela cunhada (Barbara Hershey), a história passa a examinar as diferenças e atritos que existem entre três irmãs. Uma delas (Mia Farrow), mais afetuosa e bem-sucedida, se destaca como quem está sempre pronta para ajudar e cuidar da família sem perguntas e julgamentos. Enquanto aproveita para percorrer as ruas e arquitetura da cidade, Woody se projeta em um alívio cômico hipocondríaco (Mickey) que em sua paranóia, precisa tirar o melhor da vida para não morrer angústiado.

Pássaros de Liberdade (2021, Sarah Adina Smith)

★★★½

113 minutos; Young Adult, Suspense, Drama; Prime Video; Com Diana Silvers, Kristine Forseth, Eva Lomby, Jacqueline Bisset, Solomon Golding, Daniel Camargo, Caroline Goodall, Nassim Lyes e Roger Barclay.

Mesmo com ar televisivo, Pássaros de Liberdade poderia ser mais um filme que relaciona o balé com a perfeição obsessiva — apesar da inegável semelhança com as histórias de todas as histórias que derivaram do conto ‘Os Sapatinhos Vermelhos’, de Hans Christian Andersen, mas consegue se destacar por méritos próprios.

Kate, é uma americana do interior da Virgínia que recebe uma bolsa para estudar numa conceituada escola de dança em Paris. Na França, ela conhece Marine, também dançarina que está lidando com o suicídio do irmão gêmeo. Kate é obstinada, mas precisa ter seu talento lapidado para conquistar o prêmio oferecido pela escola: o lugar na Ópera Nacional de Paris.

A tensão presente entre Kate e Marine é o cerne do filme. No encontro de uma alma ambiciosa e outra destruída pelo luto, elas lidam com o ambiente predatório se apoiando para sobreviver no mundo da dança profissional. Sobrevivência é quê da questão, uma vez que são constantemente testadas pelo uso de drogas, colegas da companhia e pela relação magnética que existe entre elas. O suporte e rivalidade desenvolvidos por Kate e Marine que permite que ambas conquistem seus objetivos, de se tornarem bailarinas reconhecidas e exercerem seu livre arbítrio. É uma produção dos estúdios Amazon Prime.

Assista ao Trailer.

Juliet, Nua e Crua (2018, Jesse Peretz)

★★★½

97 minutos; Comédia Romântica, Drama; HBOMax; Com Ethan Hawke, Rose Byrne, Chris O’Dowd, Azhy Robertson, Megan Dodds, Ayoola Smart, Enzo Cilenti e Pamela Lyne.

Existem duas características em especial na obra do escritor Nick Hornby: a paixão mundana e como ele consegue tratar a complexidade de relações pessoais sem santificar nem demonizar ninguém. Suas histórias falam o mínimo — sobre sentimentos, famílias e amigos. Aquelas coisas que são difíceis de explicar e impossíveis de ensinar. Em ‘Juliet’, O diretor Jesse Peretz apresenta mais pessoas imperfeitas que foram imaginadas por Hornby. Para sobreviver elas buscam refúgio em coisas como o dinheiro, futebol, arte ou na traiçoeira ideia de superioridade intelectual.

A história é a de um professor tão obcecado com um disco e seus possíveis significados ocultos a ponto de complicar sua relação com a sua companheira e trabalho. O roqueiro responsável pelo álbum, então, aparece na vida do casal, quebrando o encanto que existia em todas as relações pré-estabelecidas.

Assista ao trailer.

Adoráveis Mulheres (2019, Greta Gerwig)

★★★★

135 minutos; Drama; Netflix; Com Saoirse Ronan, Florence Pugh, Emma Watson, Eliza Scanlen, Laura Dern, Timothée Chalamet, Meryl Streep, Bob Odenkirk, James Norton e Louis Garrel.

Como o afeto se faz presente em nossas vidas? Essa a pergunta que Greta Gerwig tenta responder com Adoráveis Mulheres. O filme começa apontando uma citação de Louisa May Alcott, autora do romance que originou essa adaptação: “Eu tive muitos problemas, então escrevo contos alegres”. É isso que câmera procura insistentemente em cada quadro do filme, por amor, carinho e bons momentos que passam desapercebidos mediante a todo caos e conflito que nos são impostos pela vida. Adoráveis Mulheres é uma mensagem de infinita sensibilidade.

Jo (Saoirse Ronan) é a primeira das quatro irmãs que compõem a família March a quem o filme nos apresenta. Ela vive numa pensão em Nova Iorque e ganha a vida tentando publicar os contos e novelas que escreve para periódicos, nota-se sua vontade e natureza sonhadora no olhar e no primeiro diálogo. Amy (Florence Pugh), Meg (Emma Watson) e Beth (Eliza Scanlen) são mostradas logo em seguidas, junto de sua mãe, Mary March (Laura Dern). É aí então que a montagem de Adoráveis Mulheres começa a surpreender com uma narrativa não-linear para contar como cada uma das irmãs chegou até o presente.

O que faz de Adoráveis Mulheres um filme verdadeiramente, hmm… adorável, é o fato de ele modernizar sua história prima de época sem se fazer explícito ou vulgar demais. Greta Gerwig encontra o amor nas raízes de quem somos em nossa mais profunda intimidade, na companhia de quem queremos por perto e na realização de nossos diferentes sonhos. Seu filme acolhe e dá colo para quem precisa, isso é um feito enorme.

Leia a minha crítica completa no site da 365 Filmes.

Assista ao trailer.

A Baleia (2022, Darren Aronofsky)

★★★½

117 minutos; Drama; Paramount+; Com Brendan Fraser, Sadie Sink, Hong Chau, Ty Simpkins, Samantha Morton, Sathya Sridharan e Jacey Sink.

Peça teatral de Samuel D. Hunter onde um homem no limite da obesidade vive seus últimos dias. Com passado de escolhas contestáveis e cicatrizes causadas por perdas e a solidão, deseja reconquistar o afeto da filha — inconsequente e cruel antes de morrer. Sob esse ponto de partida, é inevitável a comparação com ‘O Lutador’ (08), do mesmo diretor. As reflexões sobre perdão e o egoísmo se manifestam nessa dinâmica do protagonista, que abre mão da autoridade paterna e cede a todas as exigências e caprichos de Ellie, que por sua vez, se aproveita da condição do pai.

‘A Baleia’ é um filme sobre a origem do amor. Um sentimento que não se exige nem pode ser imposto. Que também não pode ser conquistado, ele simplesmente acontece. Mesmo entre família. O que trava o melhor desenvolvimento dessa questão, é costume de Darren Aronofsky em conversar quase que exclusivamente por metáforas (como em ‘Mãe!’, de 2017). É um recurso que parece sofisticado, mas também é traiçoeiro e simplório ao mesmo passo que a presença do Brendan Fraser é capaz de traduzir tudo o que se passa naquele quarto, independente da maquiagem.

Assista ao trailer.

Flora e Filho — Música em Família (2023, John Carney)

★★★½

97 minutos; Drama, Musical; Apple TV+; Com Eve Hewson, Orén Kinlan, Joseph Gordon-Levitt, Jack Reynor, Marcella Plunkett e Paul Reid.

John Carney entende de como tratar a arte e a música como essa força capaz de inspirar e conectar as pessoas. Flora e Filho é o quarto filme do diretor trabalhando a temática. Repetitivo? Um pouco. Segue a fórmula agridoce e até as estruturas das músicas lembram os filmes anteriores. Só que apesar de não ter força suficiente para surpreender, também é um filme confortável que atende às expectativas. Sua história reforça aquela beleza que existe nas coisas simples da vida.

Eve Hewson é a principal atriz aqui. Uma mãe cheia de dúvidas quanto a sua vocação para a maternidade e o lugar que gostaria de ocupar no mundo. Como engravidou cedo, precisou abrir mão das vontades próprias e hoje se vira entre diferentes empregos para sobreviver e criar o filho — um trombadinha metido com furtos. Voltando de uma ronda como babá, Flora encontra um violão todo espatifado, que consegue reformar por 18 euros numa luthieria. O objetivo é usá-lo para presentear Max e costurar a relação com o filho, para de quebra, tentar botar juízo na cabeça dele.

Assista ao trailer.

Faça a Coisa Certa (1989, Spike Lee)

★★★★★

120 minutos; Drama; Telecine e Prime Video; Com Spike Lee, Rosie Perez, Danny Aielo, Giancarlo Esposito, John Turturro, Samuel L. Jackson, Nill Nunn, Ossie Davis, Ruby Dee e Martin Lawrence.

Tensões envolvendo abuso de força policial em bairros negros e o estado das relações raciais nos Estados Unidos (já) estavam quentes no final dos anos 80 e início da década seguinte. Casos históricos de opressão aconteciam de costa a costa quando Faça a Coisa Certa chegou aos cinemas logo em 1989, vindo junto da cultura hiphop, também florescente à época.

O filme tenta captar tudo que envolve o universo de uma vizinhança no Brooklyn em 24 horas. É um dia quente que faz o bairro ferver como uma panela de pressão, de modo que desavenças triviais tomem proporções catastróficas. É literalmente explosivo e até certo ponto radical. Mas antes da brutalidade, Spike Lee também exalta a relação que esses moradores têm com os vizinhos, crianças, comerciantes e outras figuras. Essas pessoas que se conhecem e cuidam umas das outras há muito tempo entre as mesmas ruas.

Faça a Coisa Certa não é um manifesto e nem propõe trazer respostas para um debate tão complexo como (ainda é) a organização civil nos Estados Unidos ou qualquer periferia, mas uma reflexão angustiante sobre o estado de uma comunidade a qual só restou a rebelião para se fazerem ouvidos.

Assista ao trailer.

A Morte do Demônio (2013, Fede Alvarez)

★★★★

91 minutos; Horror; HBOMax; Com Jane Levy, Shiloh Fernandez, Lou Taylor Pucci, Jessica Lucas, Elizabeth Blackmore, Pheonix Connoly e Jim McLarty.

É mais um resgate da série Evil Dead, numa época em que os filmes de terror estavam mudando, que uma refilmagem, propriamente dita.

E como nos moldes dos filmes clássicos da série: tem serra elétrica, casa abandonada no meio da floresta, possessão, sangue caindo do céu e espirrando para todos os lados. Check em tudo, sem descartar a evolução narrativa que o gênero passou nos 30 anos que separam o primeiro título deste. Assim, administra bem a tensão, como Sam Raimi (criador da saga e diretor dos filmes originais) faria e dá um pano de fundo mais sofisticado para a relação do casal de irmãos que protagoniza a história. Então, é terror, mas é sobretudo, diversão.

Assista ao trailer.

Armageddon Time (2022, James Grey)

★★★★

114 minutos; Drama; Telecine; Com Banks Repeta, Haylin Webb, Anne Hathaway, Jeremy Strong, Anthony Hopkins, Jessica Chastain e Tovah Feldshuh.

Armageddon Time recicla e atualiza um tema já tratado a reveria no cinema americano: como as questões de imigração, diferenças de classe e raça formaram uma sociedade de cicatrizes abertas e em constante conflito.

E são os olhos de uma criança que nos conduzem em meio a essas questões, cobrindo os anos em que Reagan assume a presidencia nos Estados Unidos. Paul Graff, de família judia, estuda numa escola pública e gosta de artes. Quando faz amizade com uma criança negra, começa a absorver sua perspectiva ao mesmo tempo que passa a se comportar de maneira mais destemida na escola e em casa. Os pais comparam seu comportamento com o do irmão, aluno de uma escola particular, e que a família enxerga como um ‘investimento’ melhor.

O filme é sensível no trato da formação pessoal desde a infância, da exposição ao lado desagradável da vida. Uma criança costuma não entender bem o que acontece quando testemunha uma injustiça ou mesmo perceber as dificuldades que a família enfrenta para garantir condições decentes de sobrevivência. E Grey é muito feliz em conduzir essas discussões aqui.

Assista ao trailer.

Suspiria (2018, Luca Guadagnino)

★★★★★

152 minutos; Horror; Prime Video; Com Dakota Johnson, Tilda Swinton, Mia Goth, Chloe Grace Moretz, Angela Winkler e Jessica Harper.

Junto de Melancolia (2011, Lars Von Trier), é meu favorito entre os filmes realizados na década de 10.

Antes de ser um bom exemplo para atualizações de obras, Suspiria se desvencilha do original de Argento em estética (!) e discurso. A abordagem do Luca Guadagnino acerca da emancipação feminina no pós-guerra, aprofunda o texto original e torna os medos e ambições com os quais lida, mais concretos. As estruturas organizacionais e físicas da escola de dança onde segredos se ocultam entre frestas, esconderijos e por trás de espelhos, operam a serviço disso — enquanto a arte ensaiada em si é apresentada como objeto ritualístico.

Berlim, dividida 3 décadas após o conflito mundial, ainda traz cicatrizes e lida com luto coletivo. Essa contextualização, que a princípio parece correr paralelamente a trama principal, se cruza com a narrativa pontualmente ao decorrer do filme, para no epílogo, elucidar o trauma trocando violência por gentileza numa cena inesperada.

Assista ao trailer.

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Gabriel Caetano

Publicitário que escreve sobre arte e entretenimento. Desde 09 tô na internet falando do que gosto (e do que não gosto) para quem possa gostar (ou não) também.