X: Slasher entrega aos fãs de terror o que eles querem

Gabriel Caetano
3 min readApr 17, 2022

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Novo filme da A24 é um slasher divertido e projeto ambicioso que respeita os dogmas do gênero e brinca com caricaturas da indústria do entretenimento e dos Estados Unidos.

Ti West (No Vale da Violência e A Casa do Demônio) é um diretor cheio de boas ideias e que sabe traduzi-las em tela. Sua obra se ampara em gêneros cultuados que são trabalhados à medida que resgata um diálogo com fãs de nicho, de quebra, presta sua crítica. Seu novo filme, X é um lançamento da A24, produtora que virou referência como uma arthouse especializada em horror, embora tenha conquistado notoriedade com títulos dramáticos. Com a devida expectativa, o autor, que assina direção e roteiro, dá um passo ousado com um filme simples e entrega material de qualidade.

Em 1979, uma jovem equipe de filmagem formada por três casais aluga uma fazenda no Texas como locação para um filme adulto que se chama ‘A Filha do Fazendeiro’. Seus anfitriões são um casal de idosos que, de repente, passa a demonstrar estranho interesse nos inquilinos fazendo com que as coisas saiam do controle. Numa atmosfera bem próxima de O Massacre da Serra Elétrica e do primeiro filme da série Sexta-Feira 13 e até mesmo Psicose.

Bobby-Lynne (Brittany Snow) e Jackson (Kid Cudi) ‘quebram’ o ritmo do filme num doce momento em que cantam Landslide, do Fleetwood Mac.

O diretor e roteirista segue o ritmo que já usou anteriormente em A Casa do Demônio para contar a história de X. Mesmo comprando todos os clichês de um slasher, o autor se permite ditar as próprias regras para sua trama. Nada acontece rápido, os personagens não só ganham um background na hora certa e tudo acontece numa simplicidade que deixa o ritmo do filme bastante espontâneo. Assim, nos dois primeiros atos, West nos conduz adentro à convivência dos jovens para entendermos melhor a interação entre eles. Só então, deixar espirrar um pingo de conflito — que tem o ato sexual como centro.

Essa dinâmica entre a equipe de filmagens é um dos pontos cativantes do filme. Durante todo o tempo, eles brincam com a ideia de ‘dar ao público o que eles querem’ — ao tratarem de filmar pornografia. O que também serve como analogia para o entretenimento de forma geral, em especial, o público de filmes de terror. Os personagens se divertem nesse ambiente.

YOU’RE A FUCKING SEX SYMBOL!!!

Existe gore, que não é gratuito e introduzido com cuidado. Em nenhum momento, mesmo com jumpscares, o filme causa desconforto, apenas entretém e isso é positivo. O foco de X está no habitual clima de aventura frustrada que, inevitavelmente, findará num massacre ansiado pela audiência. Mia Goth (Suspiria), que encarna a protagonista Maxine Minx, é justo a atriz mais insossa de um elenco (bastante) qualificado. Sua personagem se sobressai à atuação, tem falas e cenas marcantes, mas que poderiam ganhar mais ‘insanidade’, que é o que o filme pede. Ainda assim, direção e cinematografia dão a esse casting destaques individuais e bolam artifícios interessantes, como o lago dos jacarés. X já tem um universo expandido em trabalho: ‘Pearl’ é uma prequel, já filmada e carregada de expectativa. Pretensões que se confundem com métodos da indústria — mesmo que no cinema independente.

Dirigido por Ti West, 2022. Direção de Fotografia: Elliot Rockett. Com Mia Goth, Jenna Ortega, Martin Henderson, Kid Cudi, Brittany Snow, Owen Campbell e Stephen Ure.

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Gabriel Caetano

Publicitário que escreve sobre arte e entretenimento. Desde 09 tô na internet falando do que gosto (e do que não gosto) para quem possa gostar (ou não) também.